Excelente entrevista da Gabriela Moura para a Bruna de Lara no The Intercept Brasil. Leitura indispensável para entender o que está acontecendo no Brasil hoje. Coloquei um pequeno trecho. Para ler na íntegra use o link.
https://theintercept.com/2019/01/03/direita-classes-populares-identitarismo/
“Em resumo, a resposta é trabalho de base?
Basicamente.
Como a gente volta para esse trabalho de base, que historicamente já foi muito forte na esquerda e agora está muito nas mãos das igrejas e da direita?
Eu não sei te explicar como nos afastamos, porque é todo um processo. A esquerda é fragmentada, não no sentido de “a esquerda não se une”. Existem diversas linhas de pensamento na esquerda. A intelectualização da esquerda é muito boa, eu acho necessária e acredito sim que as ciências devem ser usadas a nosso favor. Só que essas mesmas ciências têm que ser popularizadas. É aquilo que as pessoas falam: você joga um debate na USP, que é longe para caramba, não é fácil de chegar, às 15h. Quem você espera receber? Enquanto isso, a direita está usando o Whatsapp, está conversando com o tiozinho da esquina, está conversando com o cara que foi assaltado e está puto, porque foi assaltado, sabe?
É você adequar o seu discurso. Quando eu me formei em comunicação, isso foi uma coisa que me tocou e que eu tento policiar muito, que é a adequação do discurso. A gente tem uma mania arrogante de dizer: “Eu sou responsável pelo que eu falo, não pelo que você entende”. Não é isso, é o contrário. Se eu estou te passando uma mensagem, eu sou sim responsável pelo que você entende se eu quero que você me compreenda. E aí, mais para frente, se quisermos levar isso para outras esferas, podemos levar. Mas não vou conseguir isso se não fizer o trabalho de base levando o bê-a-bá. A esquerda ficou tão estigmatizada que qualquer mínimo ato humano que seja é tido como comunismo. E o comunismo é visto praticamente como um crime, não como um viés político que pode ser estudado, pode sim ser contestado. Mas [é visto] como crime. Então se você é minimamente simpático [a ideias comunistas], você é tido como um criminoso. As pessoas não sabem, elas não gostam, elas não querem saber. Então a direita ganhou muito bem essa parcela da população, eles souberam fazer esse trabalho e a gente se fudeu.”