Dez argumentos para você deletar agora as suas redes sociais (Jason Lanier)

“Algo totalmente novo está acontecendo. Nos últimos cinco ou dez anos, quase todo mundo começou a carregar consigo, o tempo todo, um aparelhinho chamado smartphone, feito sob medida para modificações de comportamento pelos algoritmos. (…) Estamos sendo rastreados e e avaliados constantemente, e recebendo o tempo todo um feedback artificial. Estamos sendo hipnotizados pouco a pouco por técnicos que não podemos ver, para propósitos que não conhecemos. Agora somos todos animais de laboratório. (p.13)

“Agora, todos que estão nas redes sociais recebem estímulos individualizados, continuamente ajustados, sem trégua; é só estar usando o smartphone. O que antes podia ser chamado de propaganda deve agora ser entendido como uma modificação de comportamento permanente e em escala gigantesca”. (p.15)

“Com vocês Sean Parker, primeiro presidente do Facebook:
‘Precisamos lhe dar uma pequena dose de dopamina de vez em quando, porque alguém deu like ou comentou em uma foto ou uma postagem, ou seja lá o que for (…). Isso é um circuito de feedback de validação social (…) exatamente o tipo de coisa que um hacker como eu inventaria, porque explora uma vulnerabilidade na psicologia humana (…) Os inventores criadores – eu, Mark [Zuckerberg], Kevin Systrom no Instagram, todas essas pessoas -, tinham consciência disso. E fizemos isso mesmo assim (…) isso muda a relação de vocês com a sociedade, uns com os outros (…) Isso provavelmente interfere de maneiras estranhas na produtividade. Só Deus sabe o que as redes sociais estão fazendo com o cérebro dos nossos filhos.’

Com vocês Chamath Palihapitya, ex-vice-presidente de crescimento de usuários do Facebook:
‘Criamos ciclos de feedback de curto prazo impulsionados pela dopamina que estão destruindo o funcionamento da sociedade (…) Nenhum discurso civil, nenhuma cooperação, apenas desinformação, inverdades. E não é só um problema americano – não se trata de anúncios russos. É um problema global (…) Sinto uma culpa tremenda. Acho que, no fundo, todos sabíamos – embora tenhamos fingido que provavelmente não seríamos surpreendidos por nenhuma consequência ruim. Acho que, bem, bem lá no fundo, nós sabíamos que algo ruim poderia acontecer (…) Então neste exato momento nos encontramos em uma situação realmente ruim, na minha opinião. Isso está erodindo o alicerce de como as pessoas se comportam umas com as outras. E não tenho nenhuma solução boa. Minha solução é: não uso mais essas ferramentas. Não uso há anos’.
Antes tarde do que nunca”. (p. 17-18)

“Nos últimos anos Turquia, Áustria, Estados Unidos, Índia e outras democracias elegeram líderes de tendência autoritária cujo poder se apoia no tribalismo. Os eleitores estão escolhendo votar contra eles mesmos. Em cada caso, as redes sociais exerceram um papel proeminente. Espero, sinceramente, que os nossos tempos sejam lembrados como um pequeno erro de trajeto em uma progressão até então suave para um mundo mais democrático.
Mas por enquanto enfrentamos uma crise assustadora e repentina. Antes da era Bummer*, o raciocínio geral era de que, depois de se tornar democrático, um país não apenas continuava democrático como fortalecia cada vez mais seus valores em prol da democracia, porque seu povo exigia isso.
Infelizmente, isso deixou de ser verdade, e esse fenômeno só foi ocorrer há bem pouco tempo. Algo está afastando os jovens da democracia. Apesar das autocongratulações otimistas das empresas de mídia social, parece que quando a democracia enfraquece, o mundo on-line se torna um antro de feiura e desonestidade”. (p. 142)

* [Bummer: palavra em inglês que, entre outros sentidos, pode significar decepção, chateação. Aqui é usada como acrônimo para “Behaviors of User Modified, and Made into na Empire for Rent” (que em português significa Comportamentos de Usuários Modificados e Transformado em um Império para Alugar), expressão utilizada pelo autor para caracterizar tanto o modelo de negócio das empresas de redes sociais – como Faceboock (Instagram, Whats App), Google (You Tube, Gmail), Twitter, que segundo o autor é baseado em técnicas de manipulação do comportamento dos usuários para aumentar os lucros dos clientes dessas redes, os anunciantes – como também as próprias redes sociais, que o autor designa como “impérios de modificação de comportamento”.]

“A história típica das redes sociais na política é assim: um grupo de jovens modernos e instruídos entra em uma plataforma primeiro, porque essas coisas saem do mundo moderno, jovem, instruído. Eles são idealistas. Podem ser progressistas, conservadores ou qualquer coisa. Eles querem sinceramente que o mundo seja melhor. (…)
São bem-sucedidos no começo, com frequência obtêm sucessos espetaculares, maravilhosos, mas depois tudo azeda, como num passe de mágica. A Bummer acaba alimentando mais imbecis gritalhões e trapaceiros do que os grupos iniciais de idealistas modernos, jovens e instruídos, porque a longo prazo a Bummer é mais apropriada à manipulação sorrateira e malevolente do que a qualquer outro propósito.
(…)
A Bummer está minando o processo político e machucando milhões e milhões de pessoas, mas muitas dessas mesmas pessoas estão tão viciadas que tudo o que elas podem fazer é exaltar a Bummer porque podem usá-la para reclamar das catástrofes que a própria plataforma acabou de provocar na vida delas”. (p. 144-45)

“O que as redes sociais fizeram na época, e o que sempre fazem, foi criar ilusões: de que é possível melhorar a sociedade apenas pela vontade; de que as pessoas mais sãs serão favorecidas em disputas difíceis; e de que, de algum modo, o bem-estar material simplesmente surgirá.
O que na verdade acontece, sempre, é que as ilusões se desfazem quando já é tarde demais, e o mundo é herdado pelas pessoas mais rudes, mais egoístas e menos informadas. Quem mais se machuca é qualquer pessoa que não seja uma babaca ”. (p.147)

“… o primeiro estágio do processo de degradação Bummer. Pode-se dizer que foi a lua de mel da máquina. Pessoas bem-intencionadas venceram uma etapa historicamente suave da luta, e parecia que qualquer nível de melhoria da sociedade com o qual se pudesse sonhar seria de fácil alcance.
(…)
O estágio seguinte da política Bummer é aquele em que os babacas percebem que são favorecidos pela máquina. Aparece todo tipo de idiota. Eles recebem tanta atenção que passam à frente das pessoas bem-intencionadas que acabaram de conquistar suas vitórias. Desenterram preconceitos e ódios que passaram anos sem ver a luz do dia e tornam esses ódios a tendência dominante.
Depois acontece de babacas ainda maiores manipularem os babacas do início. A partir daí, coisas terríveis entram em cena. Imbecis pavorosos, gigantes, são eleitos, projetos xenofóbicos estúpidos são exaltados, pessoas comuns sofrem enormes perdas materiais desnecessárias, em uma conjuntura propensa a conflitos e guerras”. (p. 150-51)

(LANIER, Jaron. Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018)

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