E o que muda com a EaD?
Em princípio, tudo. Ou nada. Depende do que entendemos por EaD. Hora de retomar as leituras sobre os diferentes modelos e gerações de EaD. Assumo aqui, como modelo mais adequado de EaD o modelo baseado em uma aprendizagem colaborativa sustentada por ambientes de aprendizagem interativos construídos por meio de redes de computadores. Uma característica importante deste modelo, baseado em salas de bate-papo, mensagens on-line, listas de e-mail, fóruns eletrônicos e tele-conferências, é o predomínio da escrita como meio privilegiado de troca de informações e de produção de conhecimento. Note-se que das ferramentas citadas acima, apenas a tele-conferência vale-se da oralidade, sendo todas as demais baseadas na escrita. O modo de organizar o pensamento por escrito é diferente da organização do pensamento para expressão oral. As ferramentas disponíveis num ambiente EaD como o descrito acima estimulam a troca de mensagens horizontais (entre os estudantes), o que os coloca frente à necessidade de se fazerem entender por escrito (e de entenderem as mensagens escritas que receberem). A definição tecnológica de entrada das mensagens por ordem de postagem tira (ou enfraquece fortemente) a prioridade de fala do professor.
Por outro lado, a organização do curso, a definição dos conteúdos/saberes/conhecimentos a serem trabalhados, a escolha dos textos de referência, a sequencialização do curso, a sua forma de apresentação, as atividades a serem desenvolvidas, etc, continuam sendo uma atribuição do professor. A diferença na EaD é que tudo isso chega ao aluno mediado por uma tecnologia que exige a formação de uma equipe de trabalho. Com isso o professor não é mais o único detentor de um saber academicamente legitimado que está envolvido na elaboração do curso/disciplina. E portanto não é mais o único a decidir sobre a organização do processo de aprendizagem7.
Ainda um último aspecto sobre este modelo de EaD: o tempo. A dissociação temporal é um fator talvez mais importante do que a distância espacial. O fato de que ferramentas como fóruns, mensagens eletrônicas e e-mails são assíncronos também contribui para relativizar a predominância do professor. Os alunos podem agora comunicar-se entre si ou buscar informações por conta própria ou acessar as fontes indicadas pelo professor antes de darem retorno ao professor, antes de continuarem a leitura da intervenção do professor, antes de escreverem o seu trabalho (o que é, convenhamos, diferente da dinâmica da aula presencial, em que o tempo, o ritmo, é definido pelo professor ou pelo relógio).