De 1985 a 1987 conduzi uma pesquisa com/sobre os lavradores sem terra acampados na Fazenda Annoni, entre Ronda Alta e Pontão, no noroeste do Rio Grande do Sul, para fazer o meu mestrado em antropologia. Pensando em fazer uma videoetnografia, fiz grande parte dos registros em vídeo. Acabei não concluindo esse mestrado nem fazendo a vídeoetnografia, mas produzi um documentário bem razoável, o “Até parece uma paisagem…”.
Numa das muitas mudanças de casa desde então (afinal já se passaram 32 anos), uma caixa se perdeu e dentro dela cadernos de campo, cadernetas de notas, mapas, diagramas e muitos outros registros da pesquisa. Fiquei com algumas fitas de vídeo e poucas anotações dispersas.
Comecei a mexer no material em vídeo (que eu já havia transcrito de VHS para DVD) com um editor free baixado da internet e separei alguns trechos para subir no YouTube. Preciso ainda fazer algumas legendas, colocar créditos e quando fizer mostro pra vocês. O “Até parece uma paisagem…” não recuperei a fita matriz, só tenho um arquivo feito a partir de uma cópia meio lavada e quero dar uma ajeitada antes de mostrar.
Deixo com vocês um vídeo curto, com uma adolescente recitando uma poesia feita pela mãe dela em homenagem à Rose, a Roseli Nunes, acampada na Annoni e militante do MST que morreu atropelada por um caminhão cujo motorista tentou furar um bloqueio de rodovia feito pelos acampados para pedir reforma agrária.
A menina que declama está bastante emocionada e sua performance é muito emocionante.
Aqui está o link: https://youtu.be/9VQRyu7wJNY
E aqui o texto da poesia:
“Dia 31 de março um grande fato aconteceu.
Rose foi pra dar apoio, nesse dia ela morreu.
Deixando três filhinhos, isso mais que comoveu,
pois antes de sair, ela mamá pro seu filho deu.
Se existir o pecado, governantes são pagão,
pois Rose perdeu a vida lutando por um pedaço de chão.
Isso milhares de gente sentem a mesma situação.
Pois tu carregaste a coroa que Jesus foi coroado,
deixando os três filhinhos por outras mãos ser criados.
Vimos tantas vezes teus filhos por teu nome ter chamado,
Pois Marcos Tiarajú naquele dia foi desmamado.
Rose, por tu ser humilde e não sentia cansada,
por tudo que fez na vida,
depois de morta foi lembrada.
Olhe por nós lá do alto,
Pra quanto antes ser assentados.”