Volto ao assunto da Venezuela, agora para trazer a percepção do jornalista inglês Robert Fisk, correspondente no Oriente Médio do jornal britânico The Independent. Fisk vive em Beirute há mais de 25 anos e trabalha como correspondente no Oriente Médio desde 1976, primeiro no The Times, onde ficou até 1988 e desde então até o momento no The Independent.
Com base no seu profundo conhecimento dos conflitos do Oriente Médio, Fisk neste artigo propõe compararmos as reações das potências ocidentais aos autocratas do Oriente Médio – Saddam, Assad, al-Sisi, Erdogan, Mohammed bin Salman, os príncipes sauditas com a reação destas mesmas potências a Nicolas Maduro. E sugere que avaliemos os resultados e consequências das ações das potências ocidentais em países como a Síria, a Líbia, o Afeganistão.
Onde foi que já vimos antes a posição do Ocidente em relação à Venezuela mesmo? Na Síria, no Egito, no Afeganistão… (a lista não caberia aqui). Por Robert Fisk
Antes de buscar novos apoios, o autoproclamado presidente interino da Venezuela poderia tentar ver mais de perto quem são seus amigos estrangeiros.
“O mais perto que cheguei da Venezuela, há muitos anos, foi durante uma conexão no aeroporto de Caracas. Notei um monte de soldados em boinas vermelhas e um bando de capangas, e isso me lembrou, vagamente, do Oriente Médio.
Agora, em plena tempestade de inverno no Levante, folheio meus recortes de jornal sobre nossos recentes autocratas locais – Saddam, Assad, al-Sisi, Erdogan, Mohammed bin Salman (você pode completar a lista sozinho) – e penso em Nicolas Maduro.
Não são comparações precisas. De fato, não é na natureza dos “homens fortes” que penso. Mas em nossa reação a eles. E há dois paralelos óbvios: a maneira pela qual sancionamos e isolamos o odiado ditador – ou o amamos, conforme o caso – e a maneira pela qual não apenas nomeamos a oposição como a legítima herdeira da nação, mas exigimos que a democracia seja entregue ao povo cuja tortura e luta pela liberdade repentinamente descobrimos.
E, antes que eu esqueça, há outro fio comum nessa história. Se você sugerir que aqueles que querem a mudança presidencial na Venezuela estão sendo um pouco precipitados, e nosso apoio a – digamos – Juan Guaido pode ser um pouco prematuro se não quisermos começar uma guerra civil, significa que você é “pró-Maduro”.
Assim como aqueles que se opunham à invasão do Iraque em 2003 eram “pró-Saddam”, ou aqueles que achavam que o Ocidente poderia ponderar antes de apoiar a oposição cada vez mais violenta na Síria eram rotulados de “pró-Assad”.
E aqueles que defenderam Yasser Arafat – por um longo período um superterrorista, depois um superdiplomata e finalmente um superterrorista de novo – contra quem queria destituí-lo da posição de líder dos palestinos, foram estigmatizados como sendo “pró-Arafat”, “pró-Palestina”, “pró-terrorista” e, inevitavelmente, “antissemita”. Lembro-me de como George W. Bush nos alertou, depois de 11 de setembro, que “ou você está do nosso lado ou está contra nós”. A mesma ameaça nos foi feita em relação a Assad.
Erdogan usou-a na Turquia (menos de três anos atrás) e era um argumento comum nos longínquos anos 1930, usado por ninguém menos que Mussolini. E agora cito o secretário de estado americano de Trump, Michael Pompeo, sobre Maduro: “Agora é hora de todos os países escolherem um lado… ou se está ao lado das forças da liberdade, ou associado a Maduro e seu caos”.
Você entendeu bem. Agora é a hora de todas as pessoas boas se posicionarem ao lado dos Estados Unidos, da União Europeia, das nações da América Latina – ou vocês apoiam os russos, chineses, iranianos, o pérfido Corbyn e (logo eles!) os gregos? Falando nos gregos, a pressão europeia sobre Alexis Tsipras para se alinhar ao apoio da UE a Guaido – provando que a UE pode realmente intimidar seus membros menores – é um bom argumento para os entusiastas do Brexit (embora complexo demais para que eles entendam).
Mas vamos dar uma olhada em nosso tirano favorito, nas palavras de quem se opõe a ele.”