
Nos dias que antecederam a eleição de segundo turno dois fatos relevantes: a morte do radialista e jornalista Gil Gomes e os resultados da pesquisa Datafolha sobre os atributos dos candidatos à presidência. O primeiro, evento sincrônico cheio de significados – a morte do representante de uma estirpe da crônica policial que por décadas cultivou o ódio, medo e vingança dos telespectadores e ouvintes. Cuja colheita vemos na atual polarização política. E o segundo, divulga números sobre os atributos aos candidatos à presidência que relembram os resultados da célebre pesquisa “Personalidade Autoritária” liderada por Theodor Adorno na década de 1940 nos EUA. Pesquisa representou as configurações psicodinâmicas relacionadas a atitudes e expressões antissemitas, etnocêntricas, conservadorismo político e econômico para chegar ao potencial fascista, a famosa “Escala F”. Provando que o pensamento autoritário não é uma simples “aberração cognitiva”. Mas uma formação reativa psíquica à espera de uma tradução política.
É muito sincrônico o falecimento de Gil Gomes às vésperas de uma possível vitória do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro. Gil Gomes fez parte de toda uma geração midiática de nomes como Jacinto Figueira Jr. (“o homem do sapato branco”), Luis Carlos Alborgethi et caterva cuja retórica sensacionalista da crônica policial explorava os instintos mais baixos dos espectadores como o medo, o ódio e a vingança.
Todos eles, por décadas, cultivaram no rádio e na TV esse psiquismo que agora foi agenciado politicamente por um candidato como Bolsonaro. Morte sincrônica: é como se Gil Gomes deixasse esse mundo com a sensação da missão cumprida de ter contribuído com a gênese de um político medíocre, vindo do “baixo” clero da Câmara, que ganhou força ao se sintonizar à essa egrégora proto-fascista.

Atributos dos candidatos
Adorno exilou-se nos EUA, fugindo do nazismo, quando percebeu como indivíduos aparentemente normais, vivendo num ambiente liberal e democrático, apresentavam disposições e expressões fascistas, semelhantes às experimentadas por ele na Alemanha.
Traços recorrentes que comporiam aquilo que Adorno denominou como “personalidade autoritária”: convencionalismo, submissão acrítica, agressividade autoritária, destruição e cinismo, poder e rudeza, superstição e estereotipia, exteriorização, projeção e a exagerada preocupação com relação a temas em torno da sexualidade.