From Hope to Hate/Da Esperança ao Ódio.

Ótima matéria da Daniela Caniçali, jornalista da Agecom/UFSC, sobre a Aula Inaugural do CCH/UFSC proferida pela antropóloga Rosana Pinheiro-Machado. Conforme a própria professora, a materia explica muito bem a sua palestra, seus argumentos e o clima de emoção do auditório. Olha só o que ela postou no Twitter:

“Que matéria espetacular!

Para quem deseja conhecer a palestra From Hope to Hate/Da Esperança ao Ódio 👇🏼

Explica minha palestra em detalhes, os argumentos, a emoção que contagiou o auditório lotado da Aula Inaugural na UFSC e o tour #rpmUSA https://t.co/E9EpvODgL3

Aqui a matéria:

‘A extrema direita ganhou, mas as feministas também ganharam’, afirma antropóloga na UFSC

Durante os meses de fevereiro e março deste ano, a professora e antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), fez uma peregrinação por 26 universidades norte-americanas para ministrar 35 conferências sobre um mesmo tema: a ascensão da extrema direita e consequente eleição de Jair Bolsonaro no Brasil. Rosana foi convidada para essa viagem aos Estados Unidos pelo Brazil Program, da San Diego State University, por causa da pesquisa etnográfica que vem realizando, juntamente com Lúcia Scalco, sobre o pensamento e comportamento político dos jovens da periferia de Porto Alegre (RS) — precisamente na zona leste, a área conhecida como Morro da Cruz.

Essa mesma conferência foi apresentada pela primeira — e provavelmente única — vez no Brasil na última segunda-feira, 25 de março, na Universidade Federal de Santa Catarina. Em um auditório lotado — com boa parte do público sentado no chão e até assistindo em pé do lado de fora —, Rosana proferiu a aula inaugural do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH/UFSC). A plateia permaneceu atenta e demonstrando grande interesse durante as quase duas horas de sua fala. Colunista do The Intercept e uma das idealizadoras da Escola Comum, a docente tem uma atuação expressiva fora da academia e já era conhecida por muitos dos presentes. Após sua longa explanação, ela sintetizou o momento político atual com palavras otimistas: “A extrema direita ganhou, mas as feministas também ganharam. O número de deputadas está crescendo e há uma nova geração de meninas que terão uma atuação fundamental para confrontar esse governo e reestabelecer a democracia e a esperança no Brasil.”

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC.

“Da esperança ao ódio”

Recebida entre aplausos e exclamações de protesto — como “Fora Bolsonaro!” e “Lula Livre!” —, Rosana manifestou sua satisfação pelo acolhimento caloroso. “Esse auditório cheio expressa a vontade e necessidade de estarmos juntos nesse momento, que é o começo de um período de quatro anos, mas que é também o momento em que cresce muito a rejeição a Bolsonaro no início do governo, o que caracteriza uma rejeição histórica. Mas como as camadas populares vieram a apoiar Bolsonaro? Como esses cidadãos de baixa renda, esses novos consumidores que simbolizavam a ascensão do Brasil como uma potência democrática global na Era Lula, como esses sujeitos passam a apoiar Bolsonaro?”

A partir desses questionamentos, sua pesquisa buscou apresentar um panorama da política brasileira em um intervalo de 10 anos, de 2009 a 2019, que ela define como “do lulismo ao bolsonarismo”: “Esse período é marcado pela ascensão e queda da economia, pelo colapso do sistema político e pela erosão dos partidos tradicionais. Procuramos averiguar como o cenário político e econômico nacional afetam os indivíduos e também como os grupos populares conformam cada momento político. Observamos que, após o momento de crescimento, vem o momento de crise. E essa crise vai afetar o self, o eu individual, as identidades.

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC.

Nesses 10 anos, Rosana observou de perto a passagem da fase de esperança e de projeção de sonhos para estados de descrença e depressão. “Vimos o alargamento dos sonhos dos sujeitos e depois o fechamento desses sonhos. Um certo momento de emergência global fez com que os indivíduos pudessem sonhar mais longe. Mas essa nossa capacidade de sonhar se amplia ou se fecha de acordo com o momento político. Fizemos um estudo etnográfico longitudinal, acompanhando os mesmos grupos de jovens antes e depois da crise econômica. E Porto Alegre é um lugar muito paradigmático para estudar a ascensão bolsonarista e da extrema direita, porque foi o berço do orçamento participativo e também tem a marca do Fórum Social Mundial. Porto Alegre era amplamente conhecida como uma cidade de esquerda. Mas em 2018 Bolsonaro ganhou em todos os bairros da cidade, inclusive nos menos favorecidos. É muito significativo que ele tenha conseguido se eleger no lugar onde nasceu um modelo de orçamento participativo que se tornou referência para o mundo todo na década de 1980.”

Ao longo desses anos, as etnógrafas participaram do cotidiano das famílias, fizeram entrevistas informais e formais e, de 2016 a 2018, criaram 17 grupos focais com jovens eleitores de Bolsonaro — e também participaram de grupos de Whatsapp com os integrantes da pesquisa. “Sempre faço questão de dizer: havia ódio na esperança, assim como hoje há esperança no que chamamos de ódio. Esperança e ódio não são categorias totalizantes, há contradições e complexidades. Não foi de um dia pro outro que o Brasil ‘acordou bolsonarista’. Nos anos 1980, as reuniões do orçamento participativo e das associações de bairro eram intensas e constituíam um canal de mobilização muito forte em Porto Alegre. Todas as gerações que hoje têm acima de 50, 60 anos, especialmente as mulheres, tiveram uma formação política muito sólida. E essas foram as mulheres que não votaram no Bolsonaro de jeito nenhum.”

Continue lendo no Notícias da UFSC, aqui.

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