Custos e perigos do sistema de capitalização da Previdência proposto por Guedes/Bolsonaro

Continuando a série sobre a reforma da previdência trago, novamente da Carta Capital, uma entrevista com o especialista em previdência e professor da FGV Kaizô Beltrão que deixa claro os graves perigos da reforma da previdência, que se aprovada deve gerar aumento de impostos e uma dívida impagável, com custos de cerca de 4 trilhões de reais para os cofres públicos. É estarrecedor o que está sendo tramado contra os trabalhadores e contra o Brasil por esta gente odiosa que tomou conta do Estado brasileiro.

Destaco algumas perguntas e respostas sobre pontos chave da proposta:

Carta Capital: O que é o sistema de capitalização na Previdência?
Kaizô Beltrão: Primeiro é preciso saber que existe dois tipos de capitalização. Capitalização coletiva e capitalização individual. Paulo Guedes falou de capitalização individual. Nela, cada pessoa tem uma conta separada em que se deposita os valores. Funciona um pouco como o FGTS de agora. Você tem uma contribuição e tem uma conta. Um dia, quando achar que tem dinheiro suficiente ou quando decidir que não quer mais trabalhar, você começa a tirar dinheiro de lá. Para tirar o dinheiro foi implantada diferentes formas nos países que já implantaram esse regime.

Você pode “comprar” no próprio sistema uma renda vitalícia em que pode receber certa quantia mensalmente – e acho que é isso que o Guedes está propondo – ou receber tudo de uma vez. Esse último caso normalmente é condenado porque as pessoas não conseguem planejar o futuro.

CC: O próprio ministro disse que a transição tem um custo muito alto. O que isso significa?

KB: O custo muito alto a que ele se refere fala justamente sobre essa geração que terá que acumular na capitalização a própria aposentadoria e irá, através do governo, continuar pagando para os aposentados como um todo. A geração sanduíche terá uma dupla carga, terá que pagar para eles e para os pais deles. Esse é o problema. Eu estimo que o custo dessa transição seja algo entorno de dois PIB’s, esticado no tempo, mas isso implica num gasto maior do governo.
CC: Quanto tempo, na sua avaliação, duraria esse período de transição?
KB: Uns 20 ou 30 anos porque depende de o pessoal que já está contribuindo para o sistema antigo desaparecer.

CC: Então fica caro para o contribuinte e cria-se um déficit ainda maior para o governo?

KB: Fica mais caro porque eles vão estar em um país, em uma sociedade ou em um estado que está tendo que pagar isso. Então ou o governo imprime dinheiro – o que não vai fazer – ou terá que cobrar dos contribuintes com mais impostos.

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CC: Na sua opinião, qual modelo seria melhor para o Brasil?

KB: Se estivéssemos começando do zero, o sistema mais adequado poderia ser o da capitalização, mas não é o nosso caso porque já estamos andando, então é querer mudar de trem em alta velocidade e há o risco de descarrilar.

O discurso de quem defende o sistema da capitalização é aquele que afirma que será possível fazer investimentos com esse sistema, mas o que tem acontecido é que esses fundos não têm sido aplicados em investimentos produtivos.

CC: O que significa o descarrilamento? Qual o risco real?

KB: O risco é termos uma conta impagável. Se o sistema se altera, o custo será dois PIB’s, mas ainda há diferentes variáveis que precisam estar bem. Dependerá de como vai ficar a economia, como as pessoas estarão no mercado de trabalho… Precisaria ajustar o mercado de trabalho, acabar com a informalidade, ajustar o custo Brasil e, mesmo assim, é uma conta cara de pagar.

É como se você tivesse uma família, seu pai não se aposentou e você tem que ficar pagando para ele, mantendo o seu pai, mantendo a você e pensando no seu futuro. Isso é a economia do país. As pessoas vão ter que continuar vivendo com a renda, vão ter que pagar quem está aposentado e vão ter que financiar a própria aposentadoria.

Leia a integra aqui.

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