A autoridade ética das Ciências Humanas e a tibieza moral de desqualificados como Bolsonaro e seus ministros da educação.

Peguei no facebook do Luis Felipe Miguel, cientista político e professor da UnB. O título é minha responsabilidade.

“Longe de mim negar a importância de veterinários, engenheiros e médicos. Mas acreditar que as ciências humanas são inúteis demonstra uma profunda estreiteza mental – o que não surpreende, vindo de quem vem.

John Adams, o segundo presidente dos Estados Unidos, escreveu: “Eu preciso estudar política e guerra para que meus filhos tenham a liberdade de estudar matemática e filosofia. Meus filhos devem estudar matemática e filosofia, geografia, história natural, arquitetura naval, navegação, comércio e agricultura para dar aos seus filhos o direito de estudar pintura, poesia, música, arquitetura, escultura, tapeçaria e porcelana”.

Há, na citação, um primeiro argumento em defesa das humanidades. A vida humana não se resume à luta pela sobrevivência, à produção e ao consumo, e é preciso dar condições para que ela floresça. André Gorz falava sobre “o não-necessário que dá à vida seu sabor e seu valor: tão inútil quanto a vida mesma, ele a exalta como o fim que funda todos os fins”. Recusar isso é aceitar que nossa existência se resuma ao sistema do capital.

O outro argumento, que a meu ver não está muito distante deste primeiro, é que precisamos aumentar a consciência de nós mesmos, do mundo em que vivemos e da sociedade que construímos, sob pena de nos condenarmos a apenas reproduzir o que já existe. As humanidades são fundamentais para a reflexão crítica, para o questionamento, enfim, para a produção da autonomia, tanto individual quanto coletiva.

Aí, a oposição ao estudo das ciências humanas não se baseia só em estreiteza, mas também na percepção de que elas podem representar um risco à reprodução de padrões de dominação. Não por acaso, o Japão, que o ministro da Educação citou como exemplo de país que quer reduzir o ensino superior de humanidades, é governado há tempos por um líder ultraconservador, preocupado em frear as transformações em uma sociedade tradicionalmente muito hierárquica e autoritária.

As falas de Weintraub e Bolsonaro me fizeram lembrar de Starship troops, o infame filme de Paul Verhoeren. Baseado em livro de Robert Heinlein, que foi um escritor genial de ficção científica e um cold warrior ultradireitista fanático, o filme assume o tom – satírico? – de uma peça de propaganda de um Estado global fascista em luta contra insetos gigantes. Logo no começo, se bem me lembro, um locutor explica como o mundo chegou àquela situação e fala algo como “os cientistas sociais destruíram a democracia”.

O filme estreou poucos meses depois de Fernando Henrique ter comprado a emenda da reeleição no Congresso, então a frase parecia irônica por outros motivos. Mas Bolsonaro e Weintraub temem, sim, que filósofos, sociólogos e quaisquer outros que tenham por ofício pensar fora das caixinhas coloquem em risco a “democracia” deles, o regime de boiada acéfala que eles se empenham em construir.

Não sei se é verdade, mas fico um tiquinho orgulhoso de ver que eles julgam que temos esse poder. É hora, mais do que nunca, de todos nos esforçarmos para exercê-lo, sejamos professores e estudantes de humanas ou pessoas com outros ofícios, mas com visão crítica e compromisso com um mundo melhor.”

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