Conversando com colegas de trabalho e companheiros de diretoria da AD tem sido recorrente a afirmação de que “não há clima para dialogar”, “não há o desejo do diálogo”, “não tem conversa”, “ninguém quer escutar ninguém”. Diante disso fui revirar meus guardados e trago de lá este livro muitíssimo interessante Mapeando diálogos (BOJER, Marianne Mille [et al.]. Mapeando diálogos: ferramentas essenciais para a mudança social. Rio de Janeiro: Instituto Noos, 2010), cujo esquema de leitura eu vou publicar aí embaixo.
Na mesma pasta do computador estavam outros arquivos com a mesma temática cujos links coloco aqui.
Encontro dos homens e mulheres através do diálogo. Um texto do Paulo Freire, extraído da Pedagogia do Oprimido, em que o autor nos apresenta o diálogo a partir de uma série de perguntas sobre a sua impossibilidade: “Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim? Como posso dialogar, se me admito como um homem diferente, virtuoso por herança, diante dos outros, meros “isto”, em que não reconheço outros eu? Como posso dialogar, se me sinto participante de um “gueto” de homens puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão fora são “essa gente”, ou são “nativos inferiores”? Como posso dialogar, se parto de que a pronúncia do mundo é tarefa de homens seletos e que a presença das massas na história é sinal de sua deterioração que devo evitar? Como posso dialogar, se me fecho à contribuição dos outros, que jamais reconheço, e até me sinto ofendido com ela? Como posso dialogar se temo a superação e se, só em pensar nela, sofro e definho?
Diálogo: um método de reflexão conjunta e observação compartilhada da experiência, um artigo do Humberto Mariotti, cujo objetivo é assim descrito pelo autor: “O objetivo deste texto é proporcionar noções introdutórias sobre a técnica do diálogo. Parte dele consta do livro Diálogo: A Competência do Conviver, do autor, que está em fase final de redação e será publicado pela Editora Palas Athena (São Paulo). O propósito do material aqui apresentado é servir de guia inicial para as pessoas que já estão trabalhando em grupos de diálogo ou pretendam fazê-lo. É muito provável que os fundamentos do tema sejam inéditos para a maioria dos leitores.
Conversando sobre o diálogo, do físico teórico David Bohm. Neste texto ele apresenta sua compreensão sobre o que é dialogar e propõe algumas distinções entre dialogar, discutir e debater.
E aqui então meu pequeno mapeamento do livro Mapeando Diálogos:
BOJER, Marianne Mille [et al.]. Mapeando diálogos: ferramentas essenciais para a mudança social. Rio de Janeiro: Instituto Noos, 2010.
I – Fundamentos
– clareza de propósitos
- Necessidade a que o processo procura responder.
- As necessidades específicas que fizeram com que nos reuníssemos.
- Mesmo que o processo deva ser completamente aberto, não atrelado a resultados específicos, é preciso ter clareza do motivo que fez com que nos reuníssemos (que levou à reunião deste grupo de pessoas).
– boas perguntas
- Perguntas são catalíticas, estimulam processos de pensamento, curiosidade, engajamento.
- Identificar perguntas poderosas.
- Pode haver mais de uma questão orientando o processo inteiro.
- Uma pergunta inicial pode ser formulada e ir sendo refinada para ser utilizada como material de reflexão contínua.
– participantes e participação
- Dependendo do propósito, serão necessários diferentes níveis e formas de participação.
- Conseguir conectar e incluir diferentes vozes e partes de um sistema.
– estrutura essencial do processo
- Existe um ritmo subjacente a todos os processos bem sucedidos.
- Pensar no fluxo geral do processo e no seu ritmo diário.
- Um modelo interessante é o modelo Divergência-Convergência.
– princípios
- Definem como gostaríamos de estar juntos ao buscarmos nosso propósito.
- É importante fazer alguns acordos sobre como queremos estar juntos.
- Normalmente o coordenador compartilha (ou co-cria) o propósito e os princípios com os participantes.
- É fundamental que o grupo (e não apenas o coordenador) se aproprie do propósito e dos princípios.
– seleção de ferramentas
- As ferramentas costumam auxiliar e informar o comportamento de quem as usa.
- O conhecimento de poucas pode rapidamente levar a uma dependência.
- Se adquirirmos conhecimento suficiente para usar uma ferramenta, nos sentiremos confortáveis e seguros. Somos capazes de explicar o que acontece por meio das interpretações que a ferramenta nos oferece.
- O modo ideal de lidar com o problema é fazer uma seleção consciente e usar as ferramentas, deixando, antes de mais nada, o propósito de seu uso sempre à mão.
- Para poder se beneficiar do potencial de uma ferramenta é muito importante conhecer suas limitações.
- A busca contínua de novos métodos e a ampliação de repertórios mistos são ações que também ajudam.
– o facilitador
- A importância da preparação e do estado mental do facilitador são aspectos cruciais.
- Qualidades básicas do facilitador de diálogo:
- Forte habilidade de escuta;
- Autoconsciência e autenticidade;
- Fazer boas perguntas;
- Uma abordagem holística.
– espaço físico
- O espaço físico exerce uma enorme, embora invisível influência sobre os rumos do processo.
- O espaço físico também pode sustentar a inteligência coletiva do grupo enquanto esta evolui.
- É importante tentar criar esse tipo de ambiente em todas as conversas e processos de diálogo que iniciemos.
II – Ferramentas
– características do método
- Para selecionar as ferramentas é importante observar o propósito e o contexto do processo que se pretende desenvolver.
– propósitos de um processo de diálogo:
- Gerar consciência;
- Resolução de problemas;
- Construir relacionamentos;
- Inovação;
- Visão compartilhada;
- Construir capacidades;
- Desenvolvimento pessoal/de liderança;
- Lidar com conflitos;
- Planejamento estratégico e de ação;
- Tomar decisões.
– contexto do diálogo
- Complexidade da situação;
- Conflito na situação;
- Tamanho do grupo;
- Representação sistêmica;
- Diversidade de poder;
- Diversidade cultural;
- Treinamento específico do facilitador.
– Investigação Apreciativa
– Laboratório de Mudança
– O Círculo
– Democracia Profunda
– Busca do Futuro
– Escola para a Paz Palestino-Israelense
– Tecnologia do Espaço Aberto
– Planejamento de Cenários
– Diálogo Sustentado
– World Café
– ferramentas adicionais
- Diálogo de Bohm
- Conselho de Cidadãos
- Comunidades de Prática
- Ecologia Profunda
- Facilitação Dinâmica e Criação de Alternativas
- Grupos Focais
- Facilitação Gráfica
- Jornadas de Aprendizagem
- Projetos de Escuta e Entrevistas-Diálogo
- Diálogo Socrático
- Diálogo por meio de histórias
- Teatro do Oprimido
- Encontro da Cidade do Século XXI
III – Epílogo: Conversas Africanas
– As formas de encontros são inseparáveis das culturas nas quais são adotadas.
– Conversas vivas
- Conversas continuadas como forma de vida.
- A comunicação não é apenas direta e verbal: arte, dramatização, tambores, danças e canções são usadas para comunicar especialmente o que pode ser difícil de enfrentar.
- A importância do círculo: a conversa é incorporada ao espaço físico.
– o Lekgotla (de Botswana): processo de conselhos africanos
- Não existe limite de tempo no processo.
- A conversa é aberta. Todas as histórias são ouvidas em contexto, respeitosamente e pelo tempo que for preciso.
- Cada voz é escutada e recebe peso igual.
- A mesma pessoa não falará uma segunda vez nem responderá até que as visões das demais sejam ouvidas.
- O Lekgotla se reúne em círculo. O círculo representa unidade e os participantes estão cientes de que somente formando um todo unido podem encaminhar seus problemas.
- O círculo garante que possam encarar cada participante e falar francamente um com o outro.
- O foco está menos em determinar o certo e o errado, e mais voltado à cura, restauração das relações e busca de maneiras de avançar.
- O grupo assume inteira responsabilidade coletiva pelas questões.
- As soluções são exploradas em conjunto, e não impostas por um dos lados; a orientação vai em direção ao consenso e ao compromisso.
- As necessidades coletivas da comunidade são colocadas no centro, acima de qualquer necessidade individual, e a preocupação é sempre com o que é melhor para a comunidade.
- A concepção é de que cada um deveria ter o máximo de liberdade sempre que não for à custa da liberdade dos outros.