Conheci Amnéris Maroni em 1983, através do coletivo da revista Desvios, de cujas reuniões participei em meados daquele ano. Belíssima revista, durou umas 5 ou 6 edições. continuei acompanhando, com as dificuldades da época, os trabalhos e publicações da Amnéris. Tenho até hoje, todo anotado, seu livro sobre a ocupação da fábrica da Ford naqueles anos heróicos de final de ditadura e retomada do sindicalismo e outros movimentos sociais. ela refletia sobre autonomia, hierarquias, gênero. Depois perdi contato. Há alguns anos localizei seu blog, simplesmente maravilhoso, profundo, necessário. Daí ela descontinuou o blog, que nem aparece em algumas ferramentas de busca. Linco aqui a apresentação que ela faz de si mesma no blog, em que se define como uma “buscadora fracassada”: “Quem sou?”. Vale muitíssimo a leitura.
E, como de costume, reproduzo aí embaixo alguns parágrafos como aperitivo para a leitura:
“Grande parte da minha vida ‘voltei os meus olhos para dentro’ para minha própria subjetividade que não poucos chamam de alma, querendo saber quem sou[3]. Foram décadas de perscrutação estudando C. G. Jung, os românticos e não abandonando a pergunta jamais. Jung foi meu anfitrião e me conduziu muito bem permitindo-me fazer uma etnografia da alma. Foi também importante por que através dele, da sua experiência como analista e da sua teoria, compreendi que era possível “curar-se” da psicose sem passar pelo Édipo. Tenho grande amor pelas ciências sociais e, em especial, pela antropologia e com ela aprendi a desconfiar dos universais, principalmente de uma espécie de universal-fim chamado Édipo.”
(…)
“Ao ‘voltar os meus olhos para dentro’ não encontrei, porém o que buscava: a resposta para a pergunta quem sou. Depois de muito trabalho psíquico posso dizer que me deparei com o meu próprio desconhecimento — muito embora saiba hoje muito melhor como funciono. Paradoxalmente quanto mais me conheci mais me desconheci! Mais misteriosa fiquei para mim. Senti algo que não se deixa decifrar: Jung chamou esse ponto de Self — e embora o tenha nomeado não sabe também do que se trata. O único contato que hoje tenho com essa busca são os meus sonhos que, ao longo dessa experiência se transformaram e, hoje, parece-me são ‘encenados’ por aquele ponto indecifrável e, de fato, inominável como tão bem descreveu José Saramago”.
A frase de Saramago a que Amnéris se refere aparece como epigrafe desse texto:
“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”[2].
Leia a íntegra, explore os demais textos, descubra as pequenas maravilhas que Amnéris Maroni oferece em seu blog Ponto de Vista.