“A casa está cheia de cachorros. Dormitam entremeados na gente, os focinhos espichados na direção do fogo. O Bocudo, de nariz arrebitado e preto, queixo atirado para a frente, deixando à mostra a fileira de dentes miúdos e brancos, parece estar sonhando com imagens gostosas. (…)
O Foguete está mais para trás, ocupando um metro e meio de chão, todo espichado. (…) Se se faz uma festa para ele, sobe logo para o colo, com todo aquele comprimento de pernas, corpo e língua.
Depois vem o Toco, miúdo e peludinho, amarelo e branco, e que nem é notado por entre as pernas dos banquinhos. É discreto demais para aparecer, mas está sempre rente ao fogo e rosna para os grandes quando lhe passam perto.
O Negro é um cachorrão que já deve ter sido muito escorraçado, pois pouco aparece por dentro de casa. Magro e preto, (…) o Negro ronca debaixo da mesa, mantendo, pelas dúvidas, uma orelha meio erguida, quase em ângulo reto, enquanto a outra se abandona ao gosto da modorra.”(Nilo Ruschel, O Gaúcho a Pé. Porto Alegre: Livraria Sulina, c. 1960)