Pierre Levy escrevendo sobre o que é o virtual.
Deixo aqui o índice de capítulos do texto e logo abaixo copio o link para ler a íntegra no blog do próprio Pierre Levy. E após o link estou colando a Apresentação em que o Levy descreve cada um dos capítulos.
Índice
- Prefácio
- O que é virtualização?
- Virtualização do corpo
- Virtualização de texto
- A virtualização da economia
- As três virtualizações que fizeram o humano: a linguagem, a técnica e o contrato
- As operações de virtualização ou o trivium antropológico
- A virtualização da inteligência e a constituição do sujeito
- A virtualização da inteligência ou a constituição do objeto
- O quadrivium ontológico: virtualização, transformação entre outros
- Epílogo: bem-vindo aos caminhos do virtual
E aqui está o link para a íntegra do texto:
http://hypermedia.univ-paris8.fr/pierre/virtuel/virt0.htm
E segue aqui a apresentação do texto, em que o autor explica os objetivos e descreve o conteúdo de cada um dos capítulos:
“Apresentação
Um movimento geral de virtualização hoje afeta não apenas a informação e a comunicação, mas também os corpos, o funcionamento econômico, os quadros coletivos de sensibilidade ou o exercício da inteligência. Virtualização ainda atinge as modalidades de estar juntos, a constituição do “nós”: comunidades virtuais, empresas virtuais, a democracia virtual … durante a digitalização de mensagens e extensão ciberespaço desempenhar um papel-chave na mutação em curso é uma onda de substância que vai muito além da informatização.
Deveríamos ter medo de uma desrealização geral? Uma espécie de desaparecimento universal, como Jean Beaudrillard sugere? Estamos sob a ameaça de um apocalipse cultural? Uma aterrorizante implosão do espaço-tempo, como anunciado por Paul Virilio há vários anos? Este livro defende uma hipótese diferente, não catastrofista: entre as evoluções culturais em ação na virada do terceiro milênio – e apesar de seus inegáveis aspectos sombrios ou terríveis – é expressa uma continuação da hominização.
Nunca, sem dúvida, a mudança de técnicas, economia e moral foi tão rápida e desestabilizadora. Agora, a virtualização é precisamente a essência, ou a ponta, da mutação em progresso. Como tal, a virtualização não é boa nem ruim nem neutra. É apresentado como o próprio movimento do “tornar-se outro” – ou heterogênese – do humano. Antes de temê-lo, condená-lo ou jogar-me nele, peço que nos dêmos ao trabalho de entender, pensar e compreender plenamente a virtualização.
Como veremos ao longo deste livro, o virtual, rigorosamente definido, tem pouca afinidade com o falso, o ilusório ou o imaginário. O virtual não é de todo o oposto da realidade. Pelo contrário, é um modo de ser frutífero e poderoso, que dá partida aos processos da criação, abre o futuro, escava os poços do sentido sob a planura da presença física imediata.
Muitos filósofos – e não menos importante – já trabalharam no conceito de virtual, incluindo alguns pensadores franceses contemporâneos como Gilles Deleuze ou Michel Serres. Qual é a ambição deste livro? É muito simples: não me contentei em definir o virtual como um modo particular de ser, também quis analisar e ilustrar um processo de transformar um modo de ser em outro. De fato, a virtualização volta do real ou do atual para o virtual. A tradição filosófica, até os trabalhos mais recentes, analisa a passagem do possível para o real ou do virtual para o real. Nenhum estudo, até onde sei, já analisou a transformação reversa, em direção ao virtual. Ou é precisamente esse retorno a montante que me parece característico tanto do movimento de autocriação que produziu a espécie humana como da transição cultural acelerada que estamos experimentando hoje. O desafio deste livro é, portanto, triplo: filosófico (o conceito de virtualização), antropológico (a relação entre o processo de hominização e virtualização) e sociopolítico (entender a mudança contemporânea para ter uma chance de se tornar um ator). Neste último ponto, a grande alternativa não coloca em cena uma hesitação costurada entre o real e o virtual, mas sim uma escolha entre vários modos de virtualização. Melhor ainda, devemos distinguir entre uma virtualização no processo de invenção, por um lado, e suas caricaturas alienantes, reificando e desqualificando, por outro lado. De onde, na minha opinião, a necessidade urgente de um mapeamento do virtual para o qual esta “virtualização precisa” responde.
No primeiro capítulo, “O que é virtualização?”, Defino os principais conceitos de realidade, possibilidade, atualidade e virtualidade que serão utilizados posteriormente, bem como as diferentes transformações de um modo de ser outro. Este capítulo é também a ocasião para um início de análise da própria virtualização e, em particular, da “desterritorialização” e outros estranhos fenômenos espaço-temporais que geralmente estão associados a ela.
Os próximos três capítulos tratam da virtualização do corpo, do texto e da economia. Os conceitos anteriormente identificados são aqui explorados sobre os fenômenos contemporâneos e permitem analisar de forma coerente a dinâmica da mutação econômica e cultural em andamento.
O quinto capítulo analisa a hominização em termos da teoria da virtualização: virtualização do presente imediato pela linguagem, atos físicos pela técnica e violência pelo contrato. Assim, apesar de sua brutalidade e de sua estranheza, a crise da civilização que estamos experimentando pode ser recapturada na continuidade da aventura humana.
O capítulo seis, “Operações de virtualização”, usa os materiais empíricos acumulados nos capítulos anteriores para destacar o núcleo invariável das operações elementares em funcionamento em todos os processos de virtualização: os de uma gramática, de uma dialética e retórica ampliada para fenômenos técnicos e sociais.
O sétimo e oitavo capítulos examinam “A virtualização da inteligência”. Eles apresentam o funcionamento tecnossocial da cognição seguindo uma dialética da objetivação da interioridade e da subjetivação da exterioridade da qual veremos que é típica da virtualização. Esses capítulos levam a dois resultados principais. Em primeiro lugar, uma visão renovada da inteligência coletiva emergente nas redes de comunicação digital. Em seguida, a construção de um conceito de objeto (mediador social, suporte técnico e nó de operações intelectuais) que completa a teoria da virtualização.
O oitavo capítulo resume e sistematiza perspectiva as realizações do livro, e em seguida, esboçar o projeto de uma filosofia capaz de acolher a dualidade do evento e substância como pode ser questão, marca d’água, ao longo este trabalho.
Por fim, o epílogo exige uma arte de virtualização, uma nova sensibilidade estética que, nestes tempos de grande desterritorialização, tornaria a hospitalidade ampliada sua virtude cardinal.“