Em Aprendendo a pensar
com a sociologia, Zigmunt Bauman, nos ensina que a sociologia
“trata do efeito que o viver em sociedade tem sobre o que fazemos, como nos vemos e como vemos os objetos e os outros, e o que acontece em consequência disso tudo”
(Aprendendo a pensar com a sociologia, Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p.157).
Portanto, a condição de viver em sociedade faz uma enorme diferença para nossos corpos, uma vez que os corpos são objeto de condicionamento social. Bauman coloca a questão nos seguintes termos:
“Ainda que … nossos corpos ,…
tenham sido determinados por genes, e não por nossas próprias escolhas e ações intencionais – pela natureza e não pela cultura – , as pressões sociais são tais que
fazemos o possível e o impossível para levá-los a uma condição reconhecida como certa e apropriada.”
Assim,
“uma vez que desenvolver o corpo vem se tornando um dever, a sociedade estabelece os padrões da 7para uma forma desejável e, como tal, aprovada, em relação a qual cada corpo deve atuar para se aproximar daqueles padrões.”
Nesse sentido, o corpo é o nosso corpo e, ao mesmo tempo, o que os outros veem de nossa pessoa:
“O corpo é o local de nosso self em permanente exposição, e as pessoas tendem a julgar pelo que podem ver. Mesmo que o corpo não passe de um invólucro do que tomamos como nossa ‘vida interior’, são a atração, a beleza, a elegância e o encanto da embalagem que seduzirão o outro. (…) Assim, a forma do corpo, a maneira como nos vestimos e arrumamos, além de nosso modo de andar, são mensagens para os outros.”
Um aspecto do nosso corpo que vem demandando intensa e particular atenção é o
sexo (atribuição sexual/identidade sexual/sexualidade):
“Nossa atribuição sexual, como qualquer outro elemento referente ao corpo, não é qualidade determinada no nascimento. Vivemos no período (…) da ‘sexualidade plástica’. ‘Ser masculino’ ou ‘ser feminino’ é umaquestão de arte que precisa ser aprendida, praticada e constantemente aperfeiçoada.”
“No que diz respeito à identidade sexual, o corpo – sejam quais forem o seus traços biológicos herdados – aparece como um conjunto de possibilidades. Há opções a escolher em termos de identidade sexual, com abertura para a experimentação, permitindo, assim, que algo seja retirado e substituído por outro algo. A original e aparente fixidez da ‘atribuição sexual’ por todo o tempo não é uma sentença do destino.
Nossa sexualidade, como outros aspectos de nosso corpo, é tarefa a ser desempenhada. É fenômeno complexo que inclui não apenas relações e práticas sexuais, mas também linguagem, discurso, indumentária e estilo. Em outras palavras, examinar como a sexualidade é mantida, e não simplesmente dada.”
“O fato de a sexualidade não ser puramente ‘natural’, mas também um fenômeno cultural, não é, entretanto, novidade de nosso tempo.
Os seres humanos sempre nasceram com órgãos genitais de macho ou de fêmea e características corporais secundárias de macho ou fêmea. Mas, em todas as épocas, os hábitos e os costumes culturalmente modelados, ensinados e aprendidos definiram o significado de ser ‘masculino’ ou ‘feminino’.
Não obstante, o fato de ‘masculinidade’ e ‘feminilidade’ serem construções humanas, nãonaturais e, como tais, abertas à mudança, foi suprimido na maior parte da história da humanidade.”
BAUMAN, Zigmunt. Aprendendo a pensar com a sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.