3. A formação do professor

A formação do professor
Nos deparamos então com a questão fundamental da formação do professor. Vamos tentar apresentar esse tópico por meio de três séries de perguntas:
Que entendemos como um bom professor? Quais foram os professores que marcaram na nossa graduação? Por que lembramos deles? O que os distinguiu dos demais? Por que eles foram especiais? O que identificamos na nossa prática docente que podemos atribuir à influência deles?
Como se aprende a ser professor? Onde e como se dá a formação de professores? Como são os cursos de licenciatura? Como é a prática de ensino? Como são os estágios? O que é didática? Como se aprende didática? Qual o peso das disciplinas de formação geral no currículo dos cursos de formação de professores? E das disciplinas da formação específica (profissional)?. O que é formação geral e o que é formação específica na formação de um professor ou professora? Qual a formação que temos, na graduação, para trabalhar com ferramentas da informática? Com navegadores, processadores de texto e de imagem, geradores de gráficos e de mapas conceituais? Com correio eletrônico?
O que é uma formação de qualidade para professores? No que reside a qualidade dos cursos de boa qualidade na área de formação de professores? Como se verifica a qualidade no trabalho docente?

Trabalhando já há 20 anos com futuros professores (inclusive alguns colegas da Unisc foram meus alunos de graduação, ainda na década de 80 do século passado) posso afirmar que todos eles na fase de aprendizagem querem técnicas, macetes, dicas. E pedem receitas e material pronto para usar, muito material que possa ser “aplicado com a minha turma lá na escola”. E todos, ou a maioria, reclamam que a universidade não os formou para dar conta de toda a complexidade da vida real – por isso, uma expressão corrente na sociedade diz que é na prática que se aprende, ou seja, só se aprende de verdade depois que já terminou a formação (o período no qual se deveria aprender). Enfim, os professores/as queixam-se que a universidade não os preparou devidamente, no seu processo de formação, para enfrentar a sala de aula, para enfrentar o inesperado que surge todos os dias. A escola procura prever e enquadrar tantas e tantas situações que o inesperado passa a ser algo absolutamente assustador. E os professores então demandam receitas, técnicas e macetes para usar em aula tentando com isso conjurar todas as possibilidades de erupção do inesperado – ou seja, de criação, de invenção, de descoberta, de investigação, de desequilíbrio criativo, de complexificação.
Para acabar com o apego aos receituários os formadores de professores precisariam trabalhar com o inesperado na sala de aula. Quando dizemos “Vou preparar uma aula”, a frase já mostra como o inesperado está fora da aula – comumente, entende-se que uma aula bem preparada deve prever todas as atividades e o tempo de cada uma delas, mesmo que isso não deixe tempo para a contribuição dos alunos. Eu, ao contrário, penso que o máximo que poderíamos dizer é “Vou me preparar para a aula”. O que vai ser a aula? Não dá para saber, é imponderável (um sistema auto-organizado de interações educativas opera como um sistema longe do equilíbrio, que precisa modificar-se constantemente para permanecer operando). Preparar-se para a aula é estar aberto para as múltiplas possibilidades que podem surgir no processo de comunicação entre seres humanos (estudantes e professores, adultos e crianças) e pronto para selecionar entre essas possibilidades múltiplas, aquelas que melhor se adequam, no momento, para o processo de aprendizagens e descobertas que se quer provocar. Preparar-se para o imponderável, mais que um paradoxo, é um profundo e difícil exercício de abrir-se para o outro num diálogo verdadeiro e de estar atento para o presente e para a contingência que é a comunicação humana. Isso, certamente, não combina nem com aulas magistrais e palestras, nem com estudo dirigido e memorização, mas é claro que também não significa improvisação: é indispensável ter um roteiro de trabalho e muita clareza do que se quer com a aula e do que é preciso fazer para obter o resultado previsto.

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